Chiara Ramos
Sou uma mulher negra, filha do amor de Cláudio e Carla, nascida e criada nos engenhos de cana-de-açúcar da Zona da Mata de Pernambuco. Filha de Iansã com Ogum, nasci destinada a guerrear pela justiça. Não por coincidência, decidi que seria advogada aos nove anos, mesmo sem nunca ter visto um advogado. Com essa mesma idade, encontrei no judô o passaporte para oportunidades de estudo através de bolsas, até conquistar minha tão sonhada vaga na Faculdade de Direito do Recife, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Mesmo apaixonada pela vida acadêmica, as dificuldades financeiras me levaram a estudar para concursos públicos, ainda no nono período. Sem recursos para me matricular em cursinhos, desenvolvi uma metodologia própria de me preparar, que possibilitou minha aprovação em diversos exames, antes mesmo da conclusão da graduação. Hoje, essa metodologia auxilia diversas pessoas, sobretudo mulheres negras, a se aproximarem de seus sonhos de também ocuparem um cargo no sistema de justiça.
Realista esperançosa, a menina do engenho se tornou procuradora federal por convicção, professora por vocação e pesquisadora por inquietação. Doutoranda em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), em cotutoria com a Universidade de Roma (La Sapienza), e mestra em Direito pela UFPE, ocupei diversos cargos de direção e chefia na Advocacia-Geral da União (AGU). Mas, hoje, tenho certeza de que o papel mais importante que ocupo é o de abrir caminhos para que aquelas e aqueles que vieram depois de mim também possam realizar os seus sonhos, honrando nossas(os) ancestrais.