Antonio Barreto
Nasci em 1954 em Passos (MG), lugar onde fiz minha primeira pergunta importante: por que vim? Depois, mudei-me para Belo Horizonte, onde estudei História, Letras e, por artes de sobrevivência, acabei me tornando projetista de Engenharia Civil. Nessa profissão, ajudei a construir edifícios, pontes, estradas e ferrovias no Brasil e no exterior, tentando descobrir outra coisa importante: para onde vou? Há alguns anos, resolvi encarar a literatura. Comecei a escrever poemas, contos, romances, novelas, crônicas e literatura infanto juvenil. Livros que me valeram prêmios importantes. Também gosto de desenhar, fazer colagens e experiências visuais com palavras e imagens. Como os rascunhos que concebi para este livro, agora tão belamente recriados pelo Diogo Droschi. Pra mim, Vagalovnis foi um poema-revelação, desses que só acontecem uma vez na vida. Num anoitecer, eu descia de automóvel a Serra da Moeda, quando vi lá embaixo, no vale já quase imerso em sombras, uma luz imensa, intensa, esverdeada. Percebi que a luz pisca-piscava e se movia lentamente sobre a copa das árvores, de um lado a outro. Parecia um tapete coberto de estrelas vivas. Ora verdejantes, ora arroxeadas, lilases, amarelas, azuladas... Arrepiado, tentei formular explicações lógicas, ou quase: ovnis? Miniovnis reunidos em torno de uma nave-mãe? Uma nave-mãe desovando seus filhotes? E lá estava ela, sobre o ponto exato onde, anos antes, eu havia construído minha pequena morada, uma casinha de madeira, para buscar nalgum silêncio as palavras que não consigo no barulho da cidade grande. Desci correndo a serra. Quando cheguei, tudo havia desaparecido. A casa, totalmente intacta: no lugar de sempre. Fiquei apenas com a sinfonia dos grilos, das rãs, das corujas e outros pássaros noturnos. Depois, quando o vento me trouxe de longe o cantar de um galo, o latir de um cão e, com a chuva, o relinchar de um cavalo em galope, pensei: vou escrever isso... Passei a noite toda em estado de êxtase extraceleste, tentando combinar palavras e lembranças que pudessem et nizar em mim a ilusão de que pelo menos por um minuto o vagalume da eternidade havia me visitado. Na verdade, ele ficou pousado na minha mesa a noite toda, iluminando e respondendo com sua lanterninha de pilha fraca os vagalovnis que brotavam das folhas de papel-pergunta. Estas. As eternas interrogações. Ovnis existem? Não sei. Vagalovnis? Sei que sim, porque só sou o que sou porque assim me foram, naquela noite e para sempre. Como as pessoas que passam (ou que ficam) pela vida afora. A vida? No fundo é só isto: fazer perguntas a um vagalume. E esperar pelas respostas nalgum desses momentos de revelação.